Era uma vez um sábio, mas só ele era sábio, porque os que estavam à sua volta nada sabiam, como pensava o sábio, e de quem se ria e voltava a rir.
Quando os outros - que para o sábio não eram sábios - falavam, o sábio afinava a garganta, interrompia e muitas vezes punha a mão no braço dos não sábios para que esperassem, ou melhor, para que o ouvissem porque só o sábio sabia o que dizer sobre os mais variados assuntos.
E assim viveu o sábio durante alguns anos e os não sábios também. Quando estes viam o sábio, sabiamente faziam de conta que o não viam, porque o sábio demoraria muito tempo a dizer o que os não sábios já sabiam e também tinham mais que fazer.
O sábio partiu então para terras mais sábias onde haveria outras sabedorias que não encontrava nem perto nem longe; nem na cidade nem na aldeia, e muito menos numa vila que era um misto neutro de um espaço e de outro.
Os anos passaram, passaram e o sábio teve oportunidade de conhecer um sábio, apenas um, e esse era mesmo sábio e não pensava que só ele era sábio e não punha a mão no braço do interlocutor para lhe mostrar que era sábio e que, por isso, o melhor era não falar porque não era sábio e não era bem assim como dizia. E nunca se ria com ironia para mostrar tudo o que sabia e que os outros ignoravam.
E o primeiro sábio passou a admirar muito o sábio que conhecera. E, desta vez, ouvia e ouvia e, quando podia e o sábio não estava presente, tentava imitá-lo, mas não conseguia.
Porém, não foi o sábio que chegou a esta conclusão. Foram os que para ele não eram sábios.
Os anos passavam e passavam. O sábio continuou a achar-se sábio, sobretudo com aqueles que ele considerava não sábios e a quem queria sempre mostrar, prolongadamente, a sua sabedoria.
E os não sábios cansaram-se de tanta lição sobre assuntos e em momentos que não vinham nada a calhar.
Como a idade não perdoa, o sábio começou a cansar-se mais e a precisar dos não sábios que, perante tão demorada e previsível preleção, sem tempo de antena para contraditório, continuavam a viver a sua vida.
Era a solução mais sábia que encontravam.
E o sábio foi procurando palcos avulsos para exibir a sua sabedoria. Um dia, ouviu alguém dizer a palavra solidão. Sentou-se num banco frio de jardim e começou a chorar.
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