Era um homem que vivia só e não gostava de emprestar livros, ou melhor, nunca os emprestava. E desde muito novo que os comprava. Mesmo quando o dinheiro era pouco e o desejo de ler era muito. Eram criteriosamente escolhidos, lidos e organizados nas estantes. Que existiam na sala, no quarto e se estendiam pelas paredes do corredor.
Quando queria, encontrava-os facilmente, ou para falar deles em encontros literários ou em pequenos grupos que o convidavam para falar de um livro ou do papel da leitura ou simplesmente para os reler. Dificilmente deixava que o interlocutor manuseasse os livros que eram seus. Se alguns dados fossem necessários, era ele que os procurava e ditava-os ao interessado. Se alguém lhe pedisse para fotografar a capa, ou algum elemento do interior do livro, só autorizava se não fosse com flash.
E assim foi ao longo de muitos e muitos anos.
Às vezes convidava uns amigos para a sua casa. Mais amigos dos livros, por assim dizer.
Nunca os deixava sós junto das suas preciosidades, para se certificar que ninguém lhes mexia ou as tirava do lugar.
Ainda não disse, mas o guardador de livros há muito que tinha redução no bilhete de transportes públicos. Um dia, aconteceu o que cada um tem mais certo.
O apartamento foi vendido, os livros colocados em caixotes e alguns foram para reciclar. Como eram muito pesadas, houve caixas que cederam no transporte. Alguns livros caíram na rua encharcada e ninguém os quis.
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