A partir do início da tarde, o homem chega numa lambreta muito velha, tira o capacete, também muito velho, e senta-se na ponta do banco da rua para aproveitar melhor a sombra da árvore, porque o outono vai quente e o sol persiste como visita longa e diária.
Tira do bolso um jornal, cruza as pernas e recomeça as palavras cruzadas que não terminou no dia anterior.
Muitas pessoas passam por ele porque em frente fica a estação do comboio e há sempre gente que entra ou que sai.
Raramente levanta a cabeça, embrenhado que está em descobrir a palavra que falta para completar a linha e o quadradinho.
Não sei por que está sempre ali. Talvez espere alguém com quem se cruzou na vida.
E, enquanto espera, para não desesperar, vai cruzando palavras.
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