segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A escolha dos nomes ou Como é bom não nos chamarmos Procópia!



 Era sempre o pai que gostava de escolher o nome dos/das descendentes. Esteve para optar pelo nome de personagens de epopeias. E até já os tinha escrito num caderninho, onde registava recados para memória futura, com letra muito miudinha. Se o primeiro fosse rapaz, seria Ulisses; se fosse menina, chamar-se-ia Penélope. E não era só por ter lido a Odisseia de Homero, mas a ideia sempre lhe surgia quando via a mãe a tecer um interminável entremeio de renda, enquanto o pai trabalhava em África.
Mas não, os padrinhos não concordaram que a menina se chamasse Penélope, sobretudo a madrinha que disse até: “Pronto, tudo bem, não querem que a menina se chame Procópia como eu, mas, então, tem de se chamar Generosa porque é o que eu sou ao aceitar que a minha graça caia em desgraça e morra comigo, em vez de perdurar". 
E assim ficou o nome Generosa, pronunciado bem alto pela robusta madrinha junto da pia do batismo.
O segundo bebé, até nascer, não tinha nome. Na tarde em que outra menina viu a luz do dia, a médica obstetra pegou nela, voltou-a para a claridade da janela e exclamou: “Que formosa que ela é”. Pronto, estava encontrado o nome: Formosa e muito formosa cresceu.
O pai, que era amante de poesia com rimas, antes do nascimento da terceira filha foi pensando no nome que não destoasse do das irmãs. Como tinha de rimar, pensou em Rosa, mas era muito curto e, confrontado com o das manas, podia parecer demasiado breve e gerador de conflitos ou ciúmes.
Na Maternidade, logo que a menina nasceu, o pai foi com as duas filhas – Generosa e Formosa – visitá-la e à mãe que já não sabia o que fazer porque a bebé chorava, chorava com a boquinha muito aberta e as maçãzinhas do rosto muito vermelhas. As meninas estavam muito caladas, sem saberem o que fazer ou dizer. Foi então que Generosa se aproximou da irmã e esfregou o dedinho indicador no polegar, o que sempre fazia antes de tocar na pele macia e delicada de um bebé. Disse-lhe a mãe: “Podes fazer festas à maninha, querida. Pode ser que deixe até de chorar tanto”. E a pequena Generosa assim fez. Não sei se por cansaço ou pelo carinho acrescido, a recém-nascida sossegou. Foi então que Formosa, que gostava de imitar as palavras da mãe, exclamou: “Que mimosa!”. E logo o pai disse: “Encontrei o nome!” E, assim, Mimosa  ficou..
No regresso a casa, o pai, contente, foi com as meninas visitar uma exposição de pintura de Amadeu (Souza Cardoso) e entraram, para lanchar, no café Orfeu.
E que mais posso dizer eu? Apenas que as meninas cresceram generosas, formosas e mimosas.  Todos os os professores diziam que eram atentas, simpáticas e gostavam de aprender. Porém, as três manifestavam uma reação estranha: recusavam-se a decorar rimas e esquemas rimáticos!!!


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