Numa das últimas manhãs, em momentos e espaços diferentes, reencontrei uns amigos de longa data. Como é natural nessas ocasiões, a família veio à baila e algumas ocupações do tempo livre também. Um deles ia para o ginásio vários dias por semana. Tinha necessidade de exercício físico. A filha insistia diariamente para que a ajudasse a tratar do quintal. Para além do exercício físico, teriam mais produtos frescos.
Olhou para mim como se o pedido da filha fosse uma coisa do outro mundo e rematou:
- É que eu nunca gostei de hortas nem de flores. Quero lá saber disso.
Para mim, o que era uma coisa do outro mundo era o que acabava de ouvir.
Um pouco mais tarde, cruzei-me com outra pessoa amiga. De novo, a família e alguns afazeres de tempos livres.
E exprimia-se com todo o fascínio amoroso pelo tratamento do quintal, sempre que podia. Também se dedicava ao cultivo de roseiras. Estudava-as com a minúcia de cientista para que as flores fossem perfeitas.
Sorria com o prazer simples do encantamento.
E acrescentou:
- Passo lá muito do meu tempo, mesmo fins de semana. A vizinhança deve pensar que endoideci. Mas quero lá saber disso.
Chego a casa. Vejo que tenho de regar o meu quintal porque não posso perder as hortaliças que utilizo diariamente. Nem os frutos, ainda que poucos. Nem as flores, ainda que menos que no verão. Vou ficar com os pés sujos.
Mas digo para mim:
- Quero lá saber disso.
- Quero lá saber disso.
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