Romance de Nós
Estou à beira do mar,
estou à beira de ti.
Ardem no meu olhar
os sonhos que não vi.
Tudo em nós foi naufrágio,
não quisemos saber:
fizemos nosso adágio
do que não pôde ser.
Que resta do amor
a quem é como nós?
Envergonha-me pôr
em verso: «somos sós;
sós como amanhecer
às avessas do mundo;
sós como podem ser
as areias no fundo;
somos sós e sabê-lo
é negar o pronome
que de nós fez novelo
e por nós se consome».
Luis Filipe Castro Mendes, in
"Modos de Música"
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Das Palavras
As
palavras mais simples
foram as que te dei; o amor não sabe outras, só estas fazem lei. As palavras de uso mais comum e vulgar são as que amor conhece. Com elas nos pensamos; é nelas que tememos desacertos, enganos; se nelas triunfamos, já delas nos perdemos. Com palavras vulgares se diz o mal de amor, seu riso, seu espelho, o que fica da dor. E todos os mistérios que se fazem promessa e se perdem nos versos e dos corpos nasceram são aqui cerimónia evidente e secreta nas mais simples palavras que conhece o poeta. Luis Filipe Castro Mendes, in
"Os
Amantes Obscuros"
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