Quando a noite sossega, as raposas aproximam-se das casas
e atacam os sacos de lixo.
Em West Hampstead, é como em qualquer outro lugar perto
de parques. As raposas vêm à procura de alimento. Apesar do lixo ser colocado
em contentores à entrada de cada casa, as raposas atiram-se aos sacos mal
fechados. É um-ver-se-te-avias. Se o silêncio noturno é perturbado por qualquer
ruído, ou passos de algum retardatário ou notívago, elas fogem, regressando à
madrugada vazia dos parques.
Quando, em casa, falamos delas, vêm-me à memória os
livrinhos que o meu pai nos comprava, na feira do livro do Porto. Eram estórias
quase sempre com lobos à mistura.
Há noites em que as raposas parecem lutar pelos restos de
comida. Os seus gritos assemelham-se a gatos assanhados a arranhar os
descansados silêncios.
Mais satisfeitas, regressam aos parques, dando, durante o
dia, o lugar a quem procura a luz.
Talvez seja um modo de se fazer natural justiça.
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