A casa era
grande e toda coberta de azulejos azuis. Não me lembro dos desenhos, mas a cor azul continua na minha memória.
A casa tinha muitas janelas e um portão muito alto. Se o portão estava aberto, as crianças paravam as correrias para olhar os dentros da moradia. E diziam que lindo chafariz.
E imaginavam-se a tomar banho no pequeno lago ou a fugir de uma rã mais atrevida.
Mas isto
acontecia poucas vezes, porque a casa estava quase sempre fechada, apesar de também lá
morarem crianças.
A cor azul da casa teve a duração da nossa infância. E também juventude. E de uma grande parte da idade
adulta em que há o afastamento natural de muitos lugares que a azáfama diária vai trancando ou prometendo para uma visita mais tarde.
Um dia, a casa
deixou de ser azul. Veio um grupo de trabalhadores, ergueram-se andaimes,
ouviram-se muitas e longas marteladas de manhã até à noite, durante muitos
dias. Depois das obras, o sol começou a bater diretamente na pedra que estava por trás dos
azulejos que passaram a cacos que uma carrinha ia transportando para tudo ficar
limpo e organizado.
E assim o azul
dos azulejos desapareceu. Como as crianças que há muitos muitos anos lá brincavam por perto.
Mudando os habitantes da casa, o portão manteve-se fechado a maior parte dos dias e das noites.
As paredes, outrora azuis, têm agora a pedra a descoberto. Bela, por certo, mas dificilmente a vejo, porque, quando lá passo, a casa mantém-se azul, tal como a via na minha infância.
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