Um sem número
de pedras (ai, filha, que areia tão grossa!) debaixo dos pés. Logo a seguir a
imensidade de grãos miúdos de areia fina e mais dura, embora macia. Que bom
caminhar sobre ela, vendo as ondas por perto e sentindo também tão perto a
maresia.
Imensas pedras
de todos os tamanhos, cores e feitios (lembro-me de há muitos anos, a minha mãe
apanhar algumas para pôr no jardim. Não era politicamente ecológico, mas que era
bonito era).
Pedras
dispersas pela areia (um ano, de cada longo passeio que dava, trazia uma pedra
que ia alinhando no muro do pátio. Depois, comecei a ouvir: mãe, as pedras são
da praia, é lá que devem ficar!!).
E como era fim
de tarde – deste outubro que tem sido quente – as gaivotas iam pousando, mais
descansadas, na areia (e não só para descarnar, com os ávidos bicos, um peixe
comprido que deu à praia). E eram muitas as aves e as marcas das patitas no
areal seco ou molhado.
Depois, mesmo
à nossa frente e rente ao estender das ondas, um bando de pequenos pássaros (mãe,
consegues ver? São imensos. Olha, estão a levantar voo!). Sim, conseguia ver,
mas não logo logo. Os pássaros eram muitos, mas muito pequenos e o entardecer
já ia apagando as luzes naturais e acendendo as elétricas, um pouco mais ao
longe.
Fomos caminhando.
Os pássaros pareciam pressentir os nossos passos. De repente, em bando,
partiram em debandada e em sentido contrário.
Rochedos
também muitos – uns mais visíveis do que outros. Diferentes pela maré alta ou
pela maré baixa (mãe, por que é que gostamos tanto de Mindelo? Filha, é a nossa
praia há tantos anos).
Muitas
recordações. Muitos desejos de vir cá mais vezes (mãe, todos os anos, dizes a
mesma coisa e depois não cumpres!).
Hoje não vejo
a D. Lurdes, sentada num banquinho ou num degrau, de máquina firme e pronta no
tripé, a fotografar, em muitos fins de tarde, as cores do sol a esconder-se na
linha do horizonte em serenas chamas de mil vermelhos; a captar os voos das
gaivotas que quase sempre lhe fogem do zoom, mas que ela, persistente, vai
perseguindo com amorosa atenção.
Vejo fechada a
esplanada do Fernando que, no verão, se torna mais clara com os copos altos de
loira cerveja…
Também o bar
da praia está fechado. Felizmente o de Vila Chã estava aberto e a esplanada
sentava as pessoas que, mesmo conversando, se viravam de frente para o mar.
E os
passadiços de mil tábuas e de léguas de corda verde a ladeá-los e a proteger
quem as percorre.
E as dunas –
agora mais verdes por toda a chuva caída nos últimos tempos.
É outubro e o
fim de tarde é de incontáveis maravilhas. A começar pela maravilha (filha, que
bom estar aqui contigo!) de (as) poder contigo contar.
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