7 – Um reencontro
Chegou
cansado à Praça Velasquez. A caminhada havia sido muito longa. Com Flor, não se
teria atrevido a ir tão longe. Ela gostava de andar, mas, dizia, não lhe
serviam botas de sete léguas. Nesses instantes, ele sorria e dizia
carinhosamente: “Podemos ficar por mais perto, Flor. Logo que ande contigo,
ando com Deus”.
A
praça fez-lhe lembrar tempos idos em que ia ao estádio das Antas com o pai.
Punha o cachecol do FCP e a tarde de domingo era de festa, sobretudo em jogos
de cantada e partilhada vitória. No regresso, passavam todo o tempo a falar do
jogo, das cegueiras do árbitro, dos insultos dos rivais, das hipóteses de ganharem
o campeonato… Eram tardes exaltantes que moldavam dias felizes.
Como
os que vivera nos últimos tempos com Flor. Os da infância tinham passado; os
recentes, não sabia se iriam ser retomados.
Deu
uma volta ao jardim, olhando em redor, detendo-se nas diferenças que encontrava
na praça. Entrou no café Bom Dia e pediu uma água. Como outras pessoas que
estavam sós, sentou-se voltado para a porta, olhando as velhas árvores.
Na
esplanada do exterior do café, um grupo de mulheres trocava impressões
ruidosamente. Olhou-as. Parecia estar a ver um filme a que tinham cortado o
som, antepondo um vidro entre o espectador e a ação. Eram professoras, de
certeza. De repente, uma evidenciou-se perante o seu olhar. Não era possível.
Tinha envelhecido, mas não perdera o sorriso simpático. Era Lurdes, a amiga que
conhecera na livraria Latina, na rua Santa Catarina, há muito anos. Ficaram
amigos por algum tempo, mas, enveredando por caminhos mais solitários, Domingos
deixara de a ver.
Olhando-a,
lembrou-se de Flor. Mesmo que Lurdes o visse, não ficaria a conversar, embora
soubesse que ela era faladora e curiosa. O dia era-lhe pesado para palavras
leves que não queria proferir.
Mas
como o olhar é livre, o de Lurdes voou sobre as mesas e cruzou-se com o seu. Logo
se levantou para o vir cumprimentar.
“Então,
o que é feito de si? Há tanto tempo! Que boa coincidência! Também costuma vir
aqui? Nunca o vi por cá!”
Que
não, há muito que cá não vinha. Tinha lá chegado quase por acaso, porque
precisava de caminhar e espairecer. Sabia que caminhar lhe fazia bem. Agora,
tinha de ir. Ainda era longo o percurso até casa, embora fosse sempre a descer.
“Gostei
muito de a ver”.
“E
eu também de o voltar a encontrar. Venho sempre aqui à quarta-feira de manhã.
Apareça. Temos muitos assuntos para pôr em dia”.
(Continua,
com Domingos a lembrar-se que se tinha esquecido do telemóvel, na mesinha junto
à varanda).
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