Van Gogh |
O assado no forno. Na televisão, sem
som, belas fotografias a preto e branco com infantis sorrisos luminosos. Na antena 2, música que
dizem ser eterna. A mesa posta. Com fruta fresca. Da que não passaria nas
grandes superfícies de tão pequena e irregular. Na panela, também pequena,
fervem legumes. A água, borbulhando, derrama-se no fogão. Lá fora, também a
chuva se vai espalhando. Nem parece julho, disse a vendedora do jornal. Assim,
não se gasta tanta água para regar, acrescentou. As notícias estão ainda no
saco de plástico que cumprirá a função de suporte para o lixo. Bem mais do que publicidade
para que foi pago. Um frasco de compota de ameixa vermelha espera, na mesa, por
um rótulo azul. De tão fugaz nem precisaria, mas as palavras e as cores ajudam no sabor
desejado. E vem a lembrança dos afazeres de amanhã. Das contas a pagar no
multibanco. Da carta que está à espera nos CTT e que foi aberta vá-se lá saber
porquê e por quem. E o cheiro do assado a embalsamar a cozinha com odores também
do passado. Vêm lembranças, saudades e perplexidades perante a vida e também a
morte. Um livro de contos e outro de poemas sobre a mesa. E também um filme de
Pasolini – de rostos e gestos genuínos, instintivos e sempre surpreendentes.
Confesso: gosto de chuva. E por que
não ao domingo?
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