Eu vi a corola abrir a porta
E dobrar o caule.
Sentou-se à minha frente
Com as sépalas sobre a mesa
Como se fosse uma princesa.
Puxou um balde de água
Abanou uma abelha para longe
E começou a estremecer
Como se estivesse a escrever.
Sou uma flor sem nome
Não venho no dicionário
Não há retrato meu pelos jardins
Mas estou aqui real e concreta
Qual é o meu nome, ó poeta?
E não é que uma borboleta
Lhe sai de dentro da cor
Para desenhar a pólen
O nome que ela queria?
Como é bom uma flor chamar-se
Poesia!
José Alberto Marques
Carta a um Jovem antes de ser Poeta
Porto, Ed. Campo das Letras, 2002
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