Como balouça pelos ares no
espaço
entre arvoredo que tremula e
saias
que lânguidas esvoaçam
indiscretas!
Que pernas se entreveem, e que
mais
não vê o que indiscreto se
reclina
no gozo de escondido se
mostrar!
Que olhar e que sapato pelos
ares,
na luz difusa como névoa
ardente
do palpitar de entranhas na
folhagem!
Como um jardim se emprenha de
volúpia,
torcendo-se nos ramos e nos
gestos,
nos dedos que se afilam, e nas
sombras!
Que roupas se demoram e
constrangem
o sexo e os seios que avolumam
presos,
e adivinhados na malícia tensa!
Que estátuas e que muros se
balouçam
nessa vertigem de que as cordas
são
tão córnea a graça de um feliz
marido!
Como balouça, como adeja, como
é galanteio o gesto com que,
obsceno,
o amante se deleita olhando
apenas!
Como ele a despe e como ela
resiste
no olhar que pousa enviesado e
arguto
sabendo quantas rendas a
rasgar!
Como do mundo nada importa
mais!
Assis,
8/4/1961
JORGE DE SENA, 2013: Obras Completas - Poesia
1 [Metamorfoses, 1963]. Lisboa: Guimarães, pp.
337-338.
Obrigada, IAzinha, pelo envio destes belos documentos,
num postal de fim de semana e de celebração da primavera.
Agradeço-te também a música de Rodrigo Leão, que juntavas no "postal".
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