Ela pensou na
doença do pai, problema que afeta muitos homens e ainda mais quando a idade é
muita. E como a idade é muita, muitos amigos já partiram, as forças não são muitas
e tudo parece ser pouco como o futuro. A não ser os desgostos, chatices e
preocupações que se espessam, tornando-se muitos muitos.
Ela respirou
fundo antes de entrar no quarto onde a irmã estava presa a uma cama. Presa, mas
sem correntes, é claro. As correntes estavam no corpo doente que não obedecia a
qualquer ordem ou vontade. Apenas aos gestos dos outros para o voltarem e dele
cuidarem.
Ela reviu um
conto sobre o Porto, depois de uma amiga ter sugerido cortes necessários e
certeiros. E sentiu prazer nas sucessivas leituras. Com uma história simples, o
tempo de escrita e leitura permitia que entrasse num domínio sereno de felizes
afetos.
Ela recebeu um
convite amigo para ir ao Teatro Nacional de S. João no Porto, onde se
representa uma peça com base na obra de Fernando Pessoa. Disse que não, mas
como gostava de dizer que sim, soou a talvez, mas será não, com certeza.
Ela pegou no
livro O cozinheiro do rei D. João VI,
de Hélio Loureiro, e que será abordado no Ateliê de Escrita e de Leitura, em
Serralves, dinamizado pelo escritor Mário Cláudio, e pensou que, pelo menos,
algumas páginas queria ler.
Ela chegou à reunião de direção de turma sem ter
tido tempo para organizar todos os papéis. E repetiu-se, na presença dos
interessados: é necessário, sim, mais estudo, mais atenção nas aulas, menos
brincadeira, mais maturidade, mais consciência das exigências do Ensino
Secundário…
E, no fim, todos desejaram bom descanso. Já nem
todos dizem “Boa Páscoa”. Existem outras liberdades, felizmente. Todos esperam,
porém, uma vida nova.
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