Não me posso queixar. Pude ter férias, dei alguns passeios no nosso belo país, aproximei-me do mar, estive mais tempo e mais perto da minha família mais chegada e fundamental para mim, convivi com amigos também muito importantes na minha vida. E sabia que continuava a ter trabalho e salário ao fim do mês, apesar da supressão de subsídios.
Mas sei que milhares (se calhar, milhões) de portugueses não poderão dizer o mesmo, sobretudo em relação ao trabalho e à possibilidade de deslocações, ainda que curtas. Ontem, as ruas de muitas cidades mostraram-no bem. Com ou sem cor partidária, as pessoas manifestaram-se pacificamente, mostrando os seus rostos para que os governantes saibam que o país tem identidade e não é uma massa amorfa a quem se aplicam sucessivas experiências.
Eu não participei das manifestações, mas, ao ver as reportagens, senti que os cidadãos não podem continuar sempre do outro lado. E louvei quem foi porque o país é de todos e não apenas de alguns que mal conhecem as realidades profundas.
Dos cartazes que vi - mostrados pelas televisões - chamou-me a atenção um com um espelho. Segurava-o uma jovem, com uma bolinha vermelha no nariz, e que dizia com um sorriso empático e expressivo: "Sorria, estar a ser roubado"
As inquietações manifestadas pelas pessoas, para além de muitos desgovernos, nasciam do desemprego, da necessidade de emigração, da redução de salários, da falta de esperança, da descrença nos governantes...
Oxalá os políticos tenham visto estas imagens (a tática habitual é dizer que não viram o que não lhes interessa) e tenham alguma sensibilidade para as ter em conta em algumas medidas, até agora tomadas às cegas.
Sei que muitos portugueses nem férias puderam ter. Até o mar, que está tão próximo, foi-se tornando mais distante.
Será que um dia se poderá dizer: Sorria, não está a ser roubado!?
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