Deniz Korkmaz
— Esta corda ser minha! — grita a  Jugoslava. — Eu há mais tempo na  casa!
— Tu a mentir! — grita a Turca. — Senhorio disse corda para  todos!
As
 duas  mulheres chegaram ao pátio com os cestos cheios de roupa para 
estender. Agora  discutem sobre quem fica com as cordas de plástico 
esticadas ao longo do pátio.  A Jugoslava não sabe turco, a Turca não 
sabe falar jugoslavo. Por isso é em  alemão que têm de falar uma com a 
outra, a língua do país onde  vivem.
— Tu má! Eu três filhos! Muito  sujo!
— Tu rainha aqui? Tu nada rainha! Corda aqui  para todos!
— O teu homem prega gancho ali, no outro  canto! Tu compra a corda para ti, percebido?
— Não, não! Não tenho dinheiro para nova  corda! E tu não dar ordens aqui!
Estão
 de  pé em frente dos cestos gritando uma com a outra. As pessoas das 
casas vizinhas  já há muito que sabem por que motivo as duas mulheres se
 zangam. Mesmo assim,  ainda há quem corra à janela a ver como é que a 
discussão desta vez vai acabar.  Às vezes há quem ainda grite: “Silêncio
 aí em baixo!” ou “Pendurem a roupa em  vossas casas!” De vez em quando,
 uma janela fecha-se com força, alguém ri do  alemão cómico das mulheres
 do pátio.
—
 Vocês  deixam que isto aconteça? Uma confusão destas num domingo? — 
pergunta o Sr.  Stachel, de visita, com a mulher, em casa de Lotti e 
Karl  Waldmeister.
O Sr.  Waldmeister fecha o guarda-sol e encosta-o a um canto da  varanda.
— Bom,  vamos antes tomar o café dentro de casa, peço desculpa.
A Sr.ª  Waldmeister encolhe os ombros.
— Logo vi  que isto ia acontecer.
— Muito  desagradável! — diz a Sr.ª Stachel. 
— Não há  forma de se acabar com isto — diz o Sr. Waldmeister.
Mas ele  sabe muito bem como pode mudar a situação. Já pensa nisso há muito  tempo.
No
 quarto  de banho estão duas máquinas de secar roupa. Só uma é utilizada
 mas a segunda  também podia passar a servir. O Sr. Waldmeister pensa 
ainda na terceira grande  máquina, a ganhar pó no sótão, que lhes fora 
oferecida pela vizinha, quando se  mudara para um lar de idosos. “Sabes 
que mais, Lotti?” podia dizer à sua mulher.  “É muito simples: colocamos
 a máquina de secar no pátio e acabamos com a  discussão de uma vez por 
todas!”
Não
 o diz  porque talvez Lotti não ache a ideia boa. Se calhar responderia:
 “Oferecer  alguma coisa a quem está sempre a incomodar-nos?”
A Sr.ª  Waldmeister corta o bolo e abafa um suspiro. Ela teria uma solução. Já anda com  esta ideia há bastante tempo.
“Sabes
 que  mais, Karl?” podia dizer ao marido. “Por que é que não colocamos a
 terceira  máquina de secar roupa lá em baixo, no pátio?” Não o diz, 
porque Karl não  levaria a ideia a sério. 
Se calhar responderia: “Nem 
pensar! Elas que tratem de  comprar uma máquina de secar roupa o mais 
rápido  possível!”
O Sr.  Waldmeister fecha a porta da varanda e liga a ventoinha. 
As  mulheres continuam a discutir no pátio.
— No vosso  lugar, chamava a polícia — diz o Sr. Stachel.
— Bem, se  isto continuar assim — diz o Sr. Waldmeister — um dia não vamos ter outra  solução.
A Sr.ª  Waldmeister tira do frigorífico a taça a transbordar de natas e pousa-a em cima  da mesa.
—  Sirvam-se à vontade. Há que chegue.
A voz  treme-lhe um pouco, mas ninguém nota.
Temos tudo  que chegue. Bolo que chegue. Natas que cheguem. E uma máquina de secar a mais. 
Os  Waldmeister têm tudo o que precisam.
Só coragem  é que têm muito pouca.
Vera  Ferra-Mikura
Frieden fängt zu Hause an
 Jutta  Modler (org.)
Munique, DTV, 1989
(Tradução e adaptação)

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