segunda-feira, 13 de agosto de 2012

As mulheres do pátio

Deniz Korkmaz

Esta corda ser minha! — grita a Jugoslava. — Eu há mais tempo na casa!

Tu a mentir! — grita a Turca. — Senhorio disse corda para todos!

As duas mulheres chegaram ao pátio com os cestos cheios de roupa para estender. Agora discutem sobre quem fica com as cordas de plástico esticadas ao longo do pátio. A Jugoslava não sabe turco, a Turca não sabe falar jugoslavo. Por isso é em alemão que têm de falar uma com a outra, a língua do país onde vivem.

Tu má! Eu três filhos! Muito sujo!

Tu rainha aqui? Tu nada rainha! Corda aqui para todos!

O teu homem prega gancho ali, no outro canto! Tu compra a corda para ti, percebido?

Não, não! Não tenho dinheiro para nova corda! E tu não dar ordens aqui!

Estão de pé em frente dos cestos gritando uma com a outra. As pessoas das casas vizinhas já há muito que sabem por que motivo as duas mulheres se zangam. Mesmo assim, ainda há quem corra à janela a ver como é que a discussão desta vez vai acabar. Às vezes há quem ainda grite: “Silêncio aí em baixo!” ou “Pendurem a roupa em vossas casas!” De vez em quando, uma janela fecha-se com força, alguém ri do alemão cómico das mulheres do pátio.

— Vocês deixam que isto aconteça? Uma confusão destas num domingo? — pergunta o Sr. Stachel, de visita, com a mulher, em casa de Lotti e Karl Waldmeister.

O Sr. Waldmeister fecha o guarda-sol e encosta-o a um canto da varanda.

— Bom, vamos antes tomar o café dentro de casa, peço desculpa.

A Sr.ª Waldmeister encolhe os ombros.

— Logo vi que isto ia acontecer.

— Muito desagradável! — diz a Sr.ª Stachel. 

— Não há forma de se acabar com isto — diz o Sr. Waldmeister.

Mas ele sabe muito bem como pode mudar a situação. Já pensa nisso há muito tempo.

No quarto de banho estão duas máquinas de secar roupa. Só uma é utilizada mas a segunda também podia passar a servir. O Sr. Waldmeister pensa ainda na terceira grande máquina, a ganhar pó no sótão, que lhes fora oferecida pela vizinha, quando se mudara para um lar de idosos. “Sabes que mais, Lotti?” podia dizer à sua mulher. “É muito simples: colocamos a máquina de secar no pátio e acabamos com a discussão de uma vez por todas!”

Não o diz porque talvez Lotti não ache a ideia boa. Se calhar responderia: “Oferecer alguma coisa a quem está sempre a incomodar-nos?”

A Sr.ª Waldmeister corta o bolo e abafa um suspiro. Ela teria uma solução. Já anda com esta ideia há bastante tempo.

“Sabes que mais, Karl?” podia dizer ao marido. “Por que é que não colocamos a terceira máquina de secar roupa lá em baixo, no pátio?” Não o diz, porque Karl não levaria a ideia a sério. 

Se calhar responderia: “Nem pensar! Elas que tratem de comprar uma máquina de secar roupa o mais rápido possível!”

O Sr. Waldmeister fecha a porta da varanda e liga a ventoinha.
As mulheres continuam a discutir no pátio.

— No vosso lugar, chamava a polícia — diz o Sr. Stachel.

— Bem, se isto continuar assim — diz o Sr. Waldmeister — um dia não vamos ter outra solução.

A Sr.ª Waldmeister tira do frigorífico a taça a transbordar de natas e pousa-a em cima da mesa.

— Sirvam-se à vontade. Há que chegue.
A voz treme-lhe um pouco, mas ninguém nota.
Temos tudo que chegue. Bolo que chegue. Natas que cheguem. E uma máquina de secar a mais. 
Os Waldmeister têm tudo o que precisam.
Só coragem é que têm muito pouca.
Vera Ferra-Mikura
Frieden fängt zu Hause an
Jutta Modler (org.)
Munique, DTV, 1989
(Tradução e adaptação)


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