Maria Keil
Hoje passei a pé na rua comprida da minha aldeia, que leva às minhas raízes.
A rua da minha aldeia, na minha infância, era movimentada. As luzes, à noite, estavam acesas e ouviam-se sempre vozes na rua e nas casas.
Durante o dia, as mães vinham à janela e chamavam pelos filhos: ó Toninho, ó Albaninho... que andavam sempre a brincar na rua.
As mães da rua da minha aldeia tinham expressão de sacrificadas, ralhavam muito com os filhos, queriam tudo limpo e que eles não atirassem pedras nem dissessem asneiras.
Essas mulheres também se zangavam muito umas com as outras. Havia fortes discussões em plena rua e as crianças paravam as brincadeiras para assistir à dança dos braços e ouvir os insultos e palavrões.
Agora, na rua da minha aldeia, muitas casas estão vazias. As portas e janelas estão fechadas e os vidros partidos. Muitas pessoas já morreram e as casas foram morrendo também. De algumas só ficaram pedras.
Uma das casas era de azulejo azul e a cor avistava-se ao longe. Foi restaurada mas perdeu o azul.
A rua da minha aldeia já não parece a rua da minha aldeia mas, apesar disso, será sempre a rua da minha aldeia.
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