sexta-feira, 29 de junho de 2012

A bicicleta



O que mais lhe custava era interromper os passeios quase diários estrada fora. Durante algum tempo, não poderia percorrer  os habituais quilómetros de bicicleta, depois de um dia de trabalho ou ao fim de semana.
Sentir o vento no rosto, a física agilidade feliz aos sessenta anos,  o bem humorado convívio com os colegas do grupo de ciclistas.. Dava-lhe tanto prazer andar de bicicleta que nunca tinha pensado na possibilidade de deixar de o fazer.

E disse com doçura meneando a voz e a cabeça:
Quando fiquei doente, pensei: ai que não vou poder andar mais de bicicleta. É que não imaginas como me sinto bem quando saio para dar um passeio de bicicleta. Acho que nem em criança conheci um prazer assim. A vida deu-me coisas muito boas, mas a bicicleta é especial. Ela leva-me onde quero sem nada exigir em troca. Sem ter de marcar horários de partida ou de chegada. Faz parte de mim. Sem ela, os meus dias eram vazios e parados.

Já sei que me vais dizer: claro que em breve vais retomar os teus passeios na tua querida bicicleta.

E assim foi.
Não precisava de palavras de circunstância, mas de acreditar que a bicicleta continuava, em casa, à sua espera.

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