Gauguin
Há muitos anos,
estive num campo de férias para crianças e jovens. Não me recordo muito bem,
mas julgo que foi em Miramar. A casa onde estávamos era antiga e solarenga. Se
fosse hoje, talvez reparasse melhor nos pormenores.
Naquela altura,
o tempo era ocupado na praia em reflexões que fazíamos em conjunto, sobretudo
ao fim da tarde (recordo-me da areia fresca e dos tons avermelhados do pôr do
sol).
Tomávamos as
refeições em conjunto e recordo nitidamente duas coisas. Uma foi um grande
raspanete das responsáveis a todo o grupo, que era de dezenas de jovens, porque
havia quem desperdiçasse muito pão. Lembro-me disso quando vejo pão estragado
ou deitado fora.
A outra coisa que me ficou foi o
comportamento de uma das miúdas. Enquanto comia, nunca falava. Mastigava
devagar, olhava as companheiras de mesa, sorria mas mantinha-se em silêncio.
Como achávamos um procedimento estranho, um dia alguém lhe perguntou por que
não falava enquanto comia. Respondeu que era um hábito que tinha adquirido. Era uma forma de descansar um pouco, de retemperar
as forças e de saborear os alimentos.
Confesso que o
caso dela me vem à memória quando vejo, num qualquer restaurante, alguém a
falar muito alto. Apetece dizer: nem saboreia nem deixa saborear.
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