CARTA A OFÉLIA QUEIRÓS - 27 DE ABRIL DE 1920
Meu
Be«be»zinho lindo:
Não imaginas
a graça que te achei hoje á janella da casa de tua irmã! Ainda bem que
estavas alegre e que mostraste prazer em me ver (...).
Tenho estado
muito triste, e além d'isso muito cansado - triste não só por te não poder ver,
como também pelas complicações que outras pessoas teem interposto no nosso
caminho. Chego a crer que a influência constante, insistente, hábil d'essas
pessoas; não ralhando contigo, não se oppondo de modo evidente, mas trabalhando
lentamente sobre o teu espírito, venha a levar-te finalmente a não gostar de
mim. Sinto-me já differente; já não és a mesma que eras no escriptorio.
Não digo que tu própria tenhas dado por isso; mas dei eu, ou, pelo menos,
julguei dar por isso. Oxalá me tenha enganado...
Olha,
filhinha: não vejo nada claro no futuro. Quero dizer: não vejo o que vãe haver,
ou o que vãe ser de nós, dado, de mais a mais, o teu feitio de cederes a todas
as influencias de familia, e de em tudo seres de uma opinião contraria á
minha. No escriptorio eras mais dócil, mais meiga, mais amorável.
Enfim...
Amanhã passo
á mesma hora no Largo de Camões. Poderás tu apparecer à janella?
Sempre e
muito teu
Fernando
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