Vivíamos há coisa de um ou dois anos no apartamento, quando vimos que havia obras na loja do rés do chão. Naquela altura, a palavra condomínio ainda não era usada. Pelo menos, eu não a conhecia. Em breve, apareceu um anúncio bem vistoso: uma churrascaria. Que bom, dissemos nós. Quando quisermos, temos o jantar pronto. É só descer as escadas.
Em breve, já havia frangos a assar na brasa. Picantezinhos e bons. Só que o estado de graça dos ditos durou pouco tempo, isto é, deixámos de lhes achar graça e deixou de ser alternativa para o jantar. É que o cheiro e o fumo entravam por todo o lado. Ah, e o ruído vagabundo de um exaustor bastante mal amanhado.
Queixei-me. O melhor é arranjarem um sistema para o cheiro e o fumo não se espalharem nem haver tanto ruído. Está tudo como manda a lei, respondiam-me. Ele era cheiro a frango na casa, ele era cheiro a frango na roupa a secar, ele era cheiro a frango por todo o lado. Nos dias mais quentes, se estávamos em casa, quase virávamos assados como os frangos, porque não podíamos abrir portas nem janelas.
Havia, porém, um dia, pouco amado habitualmente, mas que era bem-vindo: a segunda-feira - o dia de folga da churrascaria.
Já lá não vivo há muitos anos, a churrascaria existe ainda com os mesmos donos e vejo que se modernizou. Felizmente. E já lá tenho ido comprar frango de vez em quando, mas só o consegui fazer muito tempo depois de lá ter saído.