domingo, 5 de outubro de 2025

Por cá, também os livros entram na Festa!


Por estes dias, Gondomar está em Festa. É a Senhora do Rosário. Também conhecida pela Festa das Nozes, Festa do Rosário, ou, simplesmente, Rosário.

Pois bem, o tempo está de um outono quente e de céu azul e lá estão as agitadas e bem sonoras diversões e as barraquinhas de brinquedos, onde me vejo ainda criança a receber tachinhos e panelinhas das mãos da minha mãe. E, sendo já eu a mãe, a comprar um brinquedo para as minhas filhas e, agora como avó, para os meus netos.

E como me recordo dos Robertos, no largo do Souto, bonecos que se moviam num palcozinho pequeno e nos faziam rir às gargalhadas. Há muito que partiram, mas não as barracas das nozes, das castanhas, dos bolinhos de amor, dos figos secos... E dos nabos e do vinho doce e de tantas coisas boas que também o outono traz. Ah, e também não costumam faltar os vendedores ambulantes, com microfone preso ao peito, a apregoar o pague um, mas não leva só um nem dois, nem três... e ainda leva isto e mais aquilo...

Mas entremos agora nas tasquinhas, onde a esta hora, já haverá pessoas a saborear o caldo de nabos, as papas, as inúmeras iguarias tradicionais, cozinhadas e apresentadas por coletividades de Gondomar. É uma Festa para os sentidos. 

Mas a Festa com palavras é ainda mais Festa! Por isso, junto às saborosas tasquinhas, há também uma bonita e bem disposta barraquinha com venda de livros, de temas muitos variados, e cujos autores estão ligados a Gondomar. Tal acontece graças à colaboração e entusiasmo de muitos desses autores que estão presentes, dando vida a esta e outras iniciativas de divulgação de obras que se vão produzindo.

Em breve, haverá uma bela e bem cuidada coletânea de textos escritos por autores de Gondomar e que nasceu de uma conversa feliz de um pequeno grupo, que não só teve a ideia, mas passou à sua concretização, através de um trabalho que se foi alargando e que é de louvar e de reconhecer. A seu tempo, darei conta dessa publicação coletiva. De facto, a Festa é mais Festa com união e com livros. 

Boas leituras e bom domingo! E que haja sempre uma festa a celebrar!


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A ameixoeira que não gostava de estar só


Era uma vez uma ameixoeira que morava num quintal muito acolhedor. A vizinhança era muito variada: duas macieiras, três pés de abóbora, um limoeiro, margaridas, camélias, azáleas, arruda, erva-cidreira, manjericão, lúcia-lima, hipericão…

A ameixoeira dava frutos escurinhos e aveludados. A família gostava de os colher e saborear junto à árvore-mãe.

Um dia, as folhas da ameixoeira começaram a secar. De princípio, era uma aqui, outra ali, mas, em pouco tempo, ficaram todas murchas e sem vida. Bastava uma pequena brisa para as fazer cair ao chão. Qualquer aragem as desprendia e atirava-as para terra.

No ano seguinte, o mais certo era não haver compota de ameixa.

Ora, junto da ameixoeira, vivia uma buganvília de cor bem vermelha.

Enquanto a ameixoeira secava, a buganvília crescia viçosa em várias direções, às vezes um bocadinho intrometida porque espreitava e saltava o muro.  

 

E, vá-se lá saber como ou porquê, um ramo da buganvília foi ao encontro da ameixoeira fraquinha e o outro encostou-se ao tronco, amparando-o.

Apesar de parecerem abraços, os ramos da buganvília nunca taparam a ameixoeira, para que ela pudesse respirar à vontade e ter o seu espaço.

Porém, o tempo foi correndo e quem passava por lá só tinha olhos para a buganvília, porque a ameixoeira mal se via. Ainda.

 

Um dia, a dona da casa foi ao quintal apanhar couves para a sopa. Se estivesse com pressa ou a pensar em mil coisas ao mesmo tempo, nem teria reparado no que lhe saltou logo aos olhos. A ameixoeira, que parecia estar a desaparecer, tinha novas folhinhas verdes.

Olhou várias vezes com atenção, afastou uns raminhos da buganvília e viu que as folhinhas renascidas eram mesmo da ameixoeira. Até o tronco estava mais forte.

 

Foi então que ela logo chamou o neto para ver a ameixoeira renascida.

O menino olhou para a avó e disse:

- Ó avó, se calhar a buganvília não gostava de estar só!

A avó sorriu-lhe e imaginou a compota de ameixas que faria no ano seguinte. E, na mesa, não faltaria um raminho de buganvília ao lado da compota.