quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Vídeos

Há uns tempos que andava a tentar postar vídeos,
mas não sabia fazê-lo, apesar de algumas ajudas on-line.
Pois, hoje, acho que consegui e fiquei contente.
Boas Músicas e Boas Palavras!

"No sorriso louco das mães"



No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
na cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.

Herberto Hélder


 Música de Rodrigo Leão / Gabriel Gomes.  Poema de Herberto Helder (dito pelo próprio)

A palavra ao Clube das Histórias



Ainda há espaço para a alegria?
O ano que agora começa não vai ser propriamente um tempo festivo. Por isso, poderá parecer ao leitor que este tema é uma dolorosa provocação. Mas não é: falo muito a sério.
A alegria é um sentimento sem o qual os humanos não podem viver. Mesmo na noite mais escura, em que a dor, o sofrimento e o choro encharcam a nossa alma, se não encontrarmos um espaçozinho para a verdadeira alegria, dificilmente suportaremos tal situação.
É claro que há várias formas de alegria e nem todas produzem esse efeito libertador.
Há a alegria de aviário, que não tem consistência, usa-se quando a circunstância a exige, mas não tem nada por detrás. É como a carne dos frangos produzidos em série, obrigados a crescer à pressão, com um sabor sem sabor, filhos de hormonas e antibióticos insossos.
Há a alegria industrializada, que estrondeia nas vielas da noite, alimentada a combustíveis etílicos ou a passas que não são de uva. É hoje muito estimada por industriais legais de drogas ilegais que se alimentam da sua distribuição bem lucrativa e muito desejada, porque gera euforias momentâneas a quem as usa e lhe dá bravata para tomar atitudes das quais, em estado sóbrio, se envergonharia.
Há a alegria amarela, que se espelha num sorriso dessa cor, para disfarçar uma desilusão ou vir em socorro da vítima de uma qualquer partida de colegas ou da vida. Por detrás está a frustração que se quer esconder e se possível ignorar.
Há a alegria «de café» que, na sua ambiguidade, tanto pode ser um ato de superficialidade balofa como uma genuína manifestação de contentamento, que reforça as relações interpessoais.
Há a alegria franca que ressoa na gargalhada cristalina. Brota do fundo da nossa dimensão lúdica e ajuda a suportar com estoicismo angústias e medos que a vida nos põe a cada curva.
Há a alegria interior que faz «pouco ruído» mas sempre se pode encontrar na limpidez de um olhar tão transparente que chega ao fundo da alma. O olho é o espelho da alma. Quantos doentes, às vezes em estado quase terminal, continuam a irradiar um olhar sereno, a apresentar uma face risonha, a iluminar os que estão à sua volta.
Só esta alegria é capaz de ultrapassar as maiores dificuldades. Não se trata de uma alegria exterior que disfarça a amargura nem de uma alegria hipócrita que pensa enganar a dura realidade, fugindo ou ignorando-a. É, antes, a alegria dos fortes, que aceitam que a vida é feita de tempos felizes e tempos dolorosos e que uns e outros têm de ser vividos com serenidade, a alegria que evita angústias doentias ou euforias alienantes.
Esta alegria nasce do fundo de nós próprios, do facto de estarmos vivos, de acreditarmos em nós próprios, de nos reconhecermos «pessoas», sujeitos livres e conscientes da Vida e da História.
Neste ano vamos precisar muito de aprender a viver e a expressar esta alegria.
É necessário expressá-la para nos ajudarmos a nós mesmos e também para contagiar os que vivem perto de nós. Em tempos de crise, a alegria pode ser e é uma forma privilegiada de ajuda aos outros.
José Dias da Silva

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O Projeto Clube das Histórias: Abrir as portas ao sonho e à reflexão, tem vindo, ao longo dos anos, a difundir-se de uma forma significativa não só em Portugal como também no Brasil e nos países africanos de língua portuguesa. No sentido de assegurar a sua continuidade, foi constituída uma equipa pedagógica formada por professores de vários grupos disciplinares e provenientes de diversos estabelecimentos de ensino, que têm a seu cargo a seleção, preparação e envio gratuito de uma história semanal por correio eletrónico.
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