Alcachofras no S. Pedro

Cores de final do dia

Dobrada à Moda do Porto com "Nostalgia"

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

"Nostalgia"

Há pouco, recebi um mail de uma ex-aluna

À mensagem deu o título "Nostalgia". Dizia que, fazendo uma pesquisa, tinha encontrado este poema de Álvaro de Campos.

Ao contrário do prato que foi servido frio, este mail chegou bem quentinho.

Obrigada, Ana Isabel, pelo carinho.

Hoje lembrei-me da fábula da raposa e das uvas...

Imagem da net

... quando ouvi o ministro da Educação - a propósito das greves dos professores - tendo ao lado o inenarrável Secretário de Estado Casanova.

Conservem-se as uvas! Não lhes cheguem mais raposas!

Fruta da época

S. João, pois então!

S. João, és tão alegre!

Reduz a nossa tristeza;

Ajuda a descobrir

Maravilhas da Beleza!

S. João,  és manjerico

Alho porro, erva cidreira

E também o martelinho

A dar cor à barulheira!

O Porto é luz e é bruma

Na tua festa, S. João,

E no mar a sua espuma

Sem arder é clarão!

Ó meu rico S. João,
       Vou-te fazer um pedido:

Indica a direção

Pra quem anda tão perdido!

                                                             Imagem da net