quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Afinal...

Afinal, não tive tempo para escrever o texto.
Entretanto, hoje, em Serralves, com Richard Zimler, registaram-se outros elementos que podem ser desenvolvidos pela escrita:
- 5 elementos/ações do nosso quotidiano;
- 5 aspetos ligados à nossa casa.

Amanhã, digo também o que escrevi.
Porei umas imagens que combinem e deem cor ao post - na minha opinião, é claro.

Boas palavras!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Gosto...não gosto... sei...

Para um exercício de escrita, foi proposto pensar em:
a) cinco coisas de que gostamos
b) cinco coisas de que não gostamos
c) algo que se sabe fazer

Passei à prática e escolhi:
a. 1- Oferecer uma pequena história a uma criança e ver que gostou;
2 - Pôr os testes corrigidos na pasta, ficando a mesa e a mente mais arrumadas;
3 - Analisar trabalhos de alunos, realizados com empenhamento e criatividade;
4 – Caminhar ao fim da tarde à beira-mar;
5 – Ouvir a chuva cair nas tardes de domingo em que estou em casa.

b. Não gosto de
1 - palavras destrutivas;
2 – sentir os nervos à flor da pele;
3 – noites de trovoada;
4 – recordações de dias maus;
5 - andar longas horas de avião.

c) plantar flores


Logo, se puder, passarei à escrita.

domingo, 27 de novembro de 2011

Fado português

O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.


José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'

sábado, 26 de novembro de 2011

A perda de telemóvel pode tocar (n)o coração?

J. Borsky

Será isto literatura?

Poema metonímico a um mote alheio


Martha

perdi o teu telemóvel


Martha

perdi o teu telemóvel

vasculhei bem fundo a minha alma

virei-a do avesso

descosi costuras

abri bainhas

cotão e pó

camadas da tua ausência

foi tudo o que eu encontrei

nem sombra do teu 9 qualquer coisa

tanta coisa...

Martha

perdi-me na busca do teu telemóvel

arranquei botões

desalojei-os

desalojei-me

num grito rasgado

na minha procura de mim

Martha

perdi

me

na perda do teu telemóvel.

Martha

If you please call me

agora

não

não te guardes para um qualquer postal

de Natal

Martha!

IA, ESG, novembro de 2011

(N)a Língua que Somos

Para escrever é preciso ser/estar triste?

Picasso
S/cem palavras

Um escritor, Manuel António Araújo, foi a uma escola, ESG, falar sobre Literatura numa ação de formação para professores. A páginas tantas, afirmou que os escritores têm um traço comum: são tristes. Muitos discordaram, mas o autor manteve a sua convicção.

Passados alguns dias, na mesma sala, uma aluna dizia à professora que não conseguia escrever um conto de Natal, como havia sido pedido:

- Ó professora, ainda não fiz o trabalho. Só consigo escrever quando estou triste.

A professora, surpreendida, contou-lhe o que ouvira dias antes. A adolescente rematou: ele tem razão, professora.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Bom fim de semana!

A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crianças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Natal sem história

Van Gogh

Este Natal seria diferente.. A prenda que Dora tinha sugerido era ir passar a noite de Natal com alguns sem-abrigo do Porto. A família concordou. Juntar-se-iam no dia de Natal para o almoço.

Para levar, fez um prato de rabanadas, pondo, por cima, o molho que lhe tinham ensinado e que levava bastante mel. Colocou as rabanadas num prato grande e fundo, despediu-se da família e caminhou até á instituição.. Alguns ela já conhecia, porque os via quando passava para o trabalho. Vinham tomar um banho, beber uma bebida quente, desabafar as mágoas…

Quando chegou à Instituição, a mesa já estava posta. No fogão, ferviam as batatas, o bacalhau e as couves. Os convidados foram chegando. Alguns já tinham estado na instituição, mas por pouco tempo. Sentiam o apelo da liberdade da rua. Tinham-se habituado a não seguir regras, a beber, a passar noites em claro, a insultar sem ter de pedir desculpa…

Um casal chegou com uma criança pequena. Estavam felizes por serem pais daquela menina e de, finalmente, viverem numa casa. Chegou depois um homem com restos de antiga beleza. Outro tinha um gorro cinzento na cabeça e olhar cavalgante e rápido. Quase ao mesmo tempo, chegou o George, de um país de leste, com um instrumento de sopro para tocar depois da ceia…

Daí a nada, estavam todos à mesa e com o prato fumegante. Eram muitos e não pareciam à vontade. Havia desconfiança, apesar de fingirem estar bem. Uns riam com a boca desdentada e escancarada, outros sorriam sem levantar os olhos do prato. E comiam pouco.

Depois da sobremesa, onde não faltava a aletria, o bolo-rei e as rabanadas com mel, os diretores leram postais de boas-festas. Depois anunciaram mais um momento de partilha. A Liza, uma adolescente amiga da instituição, de rosto aveludado e longos cabelos castanhos, iria tocar flauta e, em seguida, George tocaria uma música de Natal do seu país. O terceiro número seria depois anunciado.

Liza, com os seus gestos calmos e refletidos, ajeitou a flauta e começou a tocar. Alguns dos presentes agitavam-se no banco corrido. Ou porque aquela música suave mexia com eles, ou por ser a primeira vez que a ouviam…

Um dos sem-abrigo, Aristides, disse de forma desajeitada: Oh, vamos mas é cantar o apita o comboio… Liza continuava a tocar. George olhava-a com delicadeza.

No fim, todos aplaudiram e alguns aproveitaram para exteriorizar o que sentiam. Muitos deles tinham cantado na escola, na catequese e até em casa. A alguns apetecia dizer que tinham adorado aquela música, que lhes tinha tocado a alma; outros sentiam raiva por não terem tido carinho, apoio, palavras, sorrisos, olhares, elogios… tanta coisa que deles fugiu ou nunca se aproximou. Ou que deixaram voar.

E.. finalmente, iriam ouvir o Silva, outro sem-abrigo de muitos conhecido, ler uma história que ele próprio tinha escrito. Silva levantou-se de um canto onde quase se tinha escondido. As mãos tremiam-lhe, a voz tinha quebras e os olhos pareciam húmidos.

Disse então:

- Não sei por que se lembraram de mim. Eu até nem tenho jeito para estas coisas. De escrever ainda gosto, porque estou calado, embora esteja sempre a ouvir coisas que se passaram comigo há muito tempo e com outras pessoas. Pois, vou, então, contar a história do sem-abrigo que fazia casinhas com caixas de fósforos…

Houve risos e Aristides disse em voz alta: as tuas casas têm teto?

O Silva conhecia o Aristides porque haviam disputado a mesma entrada coberta de um prédio no Porto. O Silva, inseguro e tímido, disse em voz baixa:

- Desculpem, mas não consigo ler. E preparei-me bem como me pediram. Tenho de me sentar.

Aristides ainda cantarolou: Ai és tão boa…

Liza, embora não estivesse previsto, recomeçou a tocar. George improvisou a seguir. Enquanto Lisa tocava, o Silva sorriu-lhe e, no final, indicou-lhe a sua morada e pediu-lhe que passasse por lá no dia seguinte, dia de Natal, ao fim da tarde. Queria oferecer-lhe uma casinha de fósforos que iria fazer para ela.

Dora a tudo assistia. No dia seguinte, passou pelo local onde Silva costumava instalar-se. Viu-o a trabalhar com os fósforos, aproximou-se dele e disse-lhe que gostava de ouvir a sua história de Natal.



Comentário para/de Mariana

Anónimo disse...

Olá Mariaana!
Vamos lá ver se desta é de vez! Já tinha escrito alguma coisa e de repente apagou-se tudo! Que chatice, já não me lembro bem o que estava a dizer! É que tenho um computador novo e ainda não sei lidar bem com ele. Coisas de cota!
Pois o que te estava a contar era que um dia destes fui à tua escola e logo, logo à entrada ouvi uns palavrões tão grandes, proferidos por alguns colegas teus, que até me arrepiei. Vê lá se tu e o teu amigo dos faróis não dizem tanta asneira junta. Não fica nada bem dentro de uma escola, nem fora, ainda por cima ditos por raparigas todas fashion!
Eu até acho que tu não és dessas. Porque quem consegue escrever um conto de Natal com tanta sensibilidade como o que tu e o Gil escreveram tem de ser especial. Ainda bem que surgiu esta oportunidade da escreita de um conto de Natal. A tua professora de português deve ser fixe! vais ver que ela não vai propor grandes alterações, mas também se quiser alterar não há mal nenhum nisso. Tens de pensar que os profs querem sempre ajudar os seus alunos a melhorar.
Já deves estar farta de tanto moralismo, mas como tu és uma jovem atinada vais compreender o que esta tua fã está a tranmitir.
Agora vou terminar a minha sopa. Gostas de sopa de nabiças ou és como alguns jovens que não gostam de sopa?
Felicidades para o concurso dos contos de Natal. Bjs para ti e para o Gil.
Até um dia destes.

Obrigada. Achei altamente este comentário. Não sei ao certo de quem é, mas desconfio. Puxei-o para esta página para não ficar escondido. Eu nunca pensei ter fãs e acho fixe. Eu dantes não pensava bem assim, porque parecia vaidade ou que me estava a armar, mas agora é um bocadinho diferente. Se a gente gosta de fazer alguma coisa, por que não dizer ou mostrar? Eu acho.
Não tenho é escrito o diário. É só testes. Ando cansadinha e nunca tenho as coisas em dia como eu gostava. Às vezes, apetece-me escrever, mas parece que estou a cometer um pecado, porque devia estar a estudar para os testes. Eu acho que não devia ser assim. Devíamos ter mais tempo para fazer as coisas. Oh!

Um xi-coração
Mariana

PS 1 - O Gi achava que não era capaz de escrever um conto de Natal e, afinal, até conseguiu. Os olhos dele são muito giros e, quando viu o conto pronto, até brilharam. E eu vi.

PS 2 - Eu gosto muito de sopa, mas... sem nabiças.