domingo, 5 de novembro de 2017

Olhando árvores e paisagens do Porto

Dentro da Quinta do Gólgota:

Eucalipto azul da Tasmânia
Faia - de mais longe e de mais perto
Azevinho (o que tem bolinhas vermelhas é fêmea)
Murta
Plátano
Espero não me ter enganado nos nomes! Se o fiz, peço desculpa e será uma maneira de rever árvores do Porto, seja no outono ou noutra estação.

Olhando árvores do Porto (e não só)


Fora da Quinta do Gólgota (junto à Faculdade de Arquitetura):

Canforeira e o seu tronco
Liquidâmbar (a folha de ácer estava na minha mão)
Hera japonesa - tricuspidata
Peço desculpa a uma pessoa que ficou na fotografia, o que sempre evito, mas vale a pena olhar para uma árvore liquidâmbar e passar junto à casa de Agustina Bessa Luís (olhando o cor-de-rosa da casa, a verdura do jardim, apetece fazer silêncio para não perturbar a escritora).
Também vale a pena prosseguir pelo caminho da Pena e ver as quintas que lá existem, algumas delas, infelizmente, parecem ao abandono. Numa delas, e no cimo de uma árvore, havia uma enorme bola de vespas que uma moradora disse ter medo que saíssem do seu ninho.
São talvez medos da aldeia que também existem no meio (ainda) tranquilo de cidades, como o Porto.

sábado, 4 de novembro de 2017

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

As avencas das minhas tias

 Quando eu era pequena, gostava de ir para a "sala de cima", de uma velha casa de lavoura onde a família da minha mãe sempre tinha vivido.
Ora, para se chegar à tal sala, tinha de se passar por uma varanda cheia de luz e de vasos de avenca em cima de colunas de madeira.
As avencas eram tratadas com delicadeza e com frequência para que não passassem fome nem sede. Às vezes, eram mudadas de sítio para serem poupadas aos excessos do sol ou do calor.
Eu vira as minhas tias a cuidarem das avencas desde sempre. As avencas eram verdíssimas e viçosíssimas e as minhas tias pareciam-me velhas, mas só agora vejo que eram novas e que, se todas vivessem, só agora seriam velhas.
Hoje, pela manhã, apanhei um raminho de avencas, juntei-lhes uma orquídea, atei-as com um fio claro e fui depô-las onde algumas já moram há algum tempo.
Não sei se viram, mas a intenção também não era essa.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Uma pequena história Sem Sombra de dúvida!






O céu estava coalhado de nuvens pardacentas. O ar gelava. A noite aproximava-se e não se via ninguém na rua ladeada de árvores despidas e negras. No silêncio parado, irrompeu o ruído de um carro, parando junto da porta do casarão, quase sempre fechado. O silvado cobrira os muros altos, isolando a casa. Todos diziam que lá não morava ninguém e contavam-se histórias sobre os habitantes que há muito tinham morrido, mas que, por muito amarem aquela casa e por muitas paixões guardarem, não tinham desaparecido. Porém, o único indício de vida, percebido do exterior, era o carro que, de repente, entrava e saía pelo portão que batia de forma assustadora.
Engolido o carro, tudo voltava ao silêncio.
Numa noite, houve um outro sinal: saía fumo de uma chaminé.
Aproveitando a minha invisibilidade de autora da história, entrei porque o frio era muito e também  não gosto de ficar a espreitar aquém dos muros.
As sebes do enorme jardim estavam desgrenhadas e ressequidas; as árvores erguiam-se nos seus troncos retorcidos, sustentados por raízes irregulares e salientes; algumas rosas vermelhas haviam murchado em botão, as heras trepavam, cobrindo  grossas paredes em ruínas.
Porém, no centro do jardim, erguia-se uma pequeníssima estufa envidraçada. As suas paredes de vidro deixavam ver aveludadas e viçosas rosas amarelas. Era o único sinal de cuidado naquele espaço sem mimo de mão humana. Ao cimo das escadas de pedra, ouviam-se vozes quase murmuradas. De repente, uma porta rangeu, saindo uma bela mulher de rosto palidamente entristecido. Desceu as escadas e dirigiu-se à estufa. Colheu um ramo de rosas e voltou a entrar em casa. O murmúrio estalou de novo.
De repente, as nuvens ganharam movimento e houve um pouco de luar. Sem se ouvir qualquer ruído, a mulher desceu as escadas de granito, trazendo um ramo de rosas secas na mão. A noite foi devolvida às trevas. Sem estrondo da pesada porta exterior, a mulher saiu num ápice, tal como tinha entrado. Nenhuma luz se via. Apenas o fumo da chaminé continuava voando.
De madrugada, a luz da lua iluminou as flores murchas. Ao seu lado, podiam ver-se, jazendo no chão, umas pesadas correntes.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A escolha dos nomes ou Como é bom não nos chamarmos Procópia!



 Era sempre o pai que gostava de escolher o nome dos/das descendentes. Esteve para optar pelo nome de personagens de epopeias. E até já os tinha escrito num caderninho, onde registava recados para memória futura, com letra muito miudinha. Se o primeiro fosse rapaz, seria Ulisses; se fosse menina, chamar-se-ia Penélope. E não era só por ter lido a Odisseia de Homero, mas a ideia sempre lhe surgia quando via a mãe a tecer um interminável entremeio de renda, enquanto o pai trabalhava em África.
Mas não, os padrinhos não concordaram que a menina se chamasse Penélope, sobretudo a madrinha que disse até: “Pronto, tudo bem, não querem que a menina se chame Procópia como eu, mas, então, tem de se chamar Generosa porque é o que eu sou ao aceitar que a minha graça caia em desgraça e morra comigo, em vez de perdurar". 
E assim ficou o nome Generosa, pronunciado bem alto pela robusta madrinha junto da pia do batismo.
O segundo bebé, até nascer, não tinha nome. Na tarde em que outra menina viu a luz do dia, a médica obstetra pegou nela, voltou-a para a claridade da janela e exclamou: “Que formosa que ela é”. Pronto, estava encontrado o nome: Formosa e muito formosa cresceu.
O pai, que era amante de poesia com rimas, antes do nascimento da terceira filha foi pensando no nome que não destoasse do das irmãs. Como tinha de rimar, pensou em Rosa, mas era muito curto e, confrontado com o das manas, podia parecer demasiado breve e gerador de conflitos ou ciúmes.
Na Maternidade, logo que a menina nasceu, o pai foi com as duas filhas – Generosa e Formosa – visitá-la e à mãe que já não sabia o que fazer porque a bebé chorava, chorava com a boquinha muito aberta e as maçãzinhas do rosto muito vermelhas. As meninas estavam muito caladas, sem saberem o que fazer ou dizer. Foi então que Generosa se aproximou da irmã e esfregou o dedinho indicador no polegar, o que sempre fazia antes de tocar na pele macia e delicada de um bebé. Disse-lhe a mãe: “Podes fazer festas à maninha, querida. Pode ser que deixe até de chorar tanto”. E a pequena Generosa assim fez. Não sei se por cansaço ou pelo carinho acrescido, a recém-nascida sossegou. Foi então que Formosa, que gostava de imitar as palavras da mãe, exclamou: “Que mimosa!”. E logo o pai disse: “Encontrei o nome!” E, assim, Mimosa  ficou..
No regresso a casa, o pai, contente, foi com as meninas visitar uma exposição de pintura de Amadeu (Souza Cardoso) e entraram, para lanchar, no café Orfeu.
E que mais posso dizer eu? Apenas que as meninas cresceram generosas, formosas e mimosas.  Todos os os professores diziam que eram atentas, simpáticas e gostavam de aprender. Porém, as três manifestavam uma reação estranha: recusavam-se a decorar rimas e esquemas rimáticos!!!