quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Natal? Já?!



Há dias ouvi, enquanto tomava um café num cafezinho onde todos se conhecem ou são familiares: "depois do Rosário, chega logo o inverno".

O Rosário (Festa da Nossa Senhora do Rosário e Feira das Nozes, em S. Cosme - Gondomar) é sempre no primeiro domingo de outubro.

No final do mês de agosto, habitualmente, o pavilhão das farturas Couto instala-se no largo do Souto, parecendo açucarar o fim do verão.

Se assim é, não será tão descabido assim ir pensando nos presentes de Natal. Comecei pelos adornos de algumas prendas que tentarei fazer eu própria. Embora sejam simples, sempre são mais personalizadas e evitam-se as filas, as pressas, o mais do mesmo...

Embalada pela ideia, ia desejar bom Natal! Meu Deus! Ainda há tanto a fazer daqui até lá! Para além dos presentes, é claro!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Remédio?



“Quer sarar uma ferida? Escreva!”

Li há dias, na revista do Expresso, um pequeno texto, assinado por José Cardoso,  com o título: “Quer sarar uma ferida? Escreva!” O texto dá conta de uma investigação, realizada numa Universidade da Nova Zelândia, que permitiu chegar a resultados como este: “além das feridas emocionais, escrever também pode ajudar a curar feridas físicas”.

Lembrei-me também de ter ouvido, numa entrevista com Patrícia Reis (de quem ainda não li nada, mas que quero ler), a escritora dizer que escrevia por necessidade emocional e que só assim sentia equilíbrio. Muitos escritores reafirmam a mesma solicitação vital.

E tal não se passa só com quem publica livros. Para os seres comuns, nos quais me incluo, escrever pode ser um modo de se aceder a uma maior harmonia pessoal que poderá também repercutir-se em quem está à nossa volta.

Num tempo em que tantas coisas nos são retiradas retiradas, se encontrarmos maneiras práticas de nos sentirmos melhor, talvez seja uma boa opção. 

Escrever será, então, uma delas. E como também vale para o corpo e para a alma, tanto melhor.


Banana e maçã



Gira, girassol!


sábado, 17 de agosto de 2013

Impressões sobre um filme

Fui ver “Gaiola dourada” e gostei do que vi e ouvi. É um filme bem disposto.

O título, francamente, não me agrada muito, mas, apesar de ser importante, não é o essencial.

Já muito se terá dito sobre o filme, o que facilita a vida a quem não é crítico/a de cinema. Assim sendo, refiro alguns aspetos que me ficaram.

Gostei particularmente das personagens representadas por Rita Blanco e Maria Vieira. A primeira mostra a dedicação à profissão de porteira, em França, assumida com amorosa verdade e dignidade. A segunda é a presença cómica que quase sempre existe nos grandes grupos. A porteira revela mais sensatez, apesar de alguns exageros como no jantar que oferece aos pais do futuro genro, francês, apresentando-se de vestido comprido e servindo requintado prato que a ninguém apetecia.  Rosa (Maria Vieira) é o nosso lado brejeiro, a alegre topa-a-tudo que torna coloridos e desenrascados os ambientes.

Achei pertinente a inclusão no filme de confusões que se fazem quando não se conhece bem a localização geográfica do país e se tem apenas uma noção vaga de factos culturais ou históricos. A francesa, mulher do patrão de José (Joaquim de Almeida), marido de Maria, diz palavras em espanhol, querendo ser simpática e mostrar que conhecia a língua portuguesa; oferece túlipas aos pais da futura nora, julgando serem as flores da Revolução de Abril…

A vozearia no convívio dos portugueses, em grupo, incluindo palavras da língua materna em frases ditas em francês será um bom retrato de uma comunidade que vive muitos dos problemas e alegrias em comum. Até uma prodigiosa herança que marcará o regresso a Portugal, depois de muitas peripécias e dúvidas, porque também no país de acolhimento se criam raízes.

Confesso que nunca imaginaria o final da história numa belíssima quinta do Douro com paisagens de fazer parar o olhar por socalcos e meandros impossíveis de desenhar.

Acabado o filme, recebi até ao fim a música sempre encantatória de Rodrigo Leão.

Era notório que havia muitos emigrantes na sala – pelos comentários que se ouviam. Não sei, porém, se eram eles que se riam mais ao longo do filme. Um happy-end assim não seria nada mau, embora, para muitos, só seja visível num mágico ecrã.

Gostei da dedicatória do realizador (Ruben Alves): À mes parents.

Cartaz do Filme

“Meu querido mês de agosto”




Cada vez me convenço mais de uma coisa simples: muitos prazeres estão nas coisas simples e, sem eles, a vida perderia muito do seu encanto.  O mês de agosto (quando se pode ter férias, é claro!) pode ser um tempo luminoso: estar mais disponível para ouvir e falar; fazer caminhadas na areia molhada; saborear um arroz de peixe ou sardinhas na brasa; ler um livro, captando melhor os pormenores da história e dos afetos; olhar a natureza com mais atenção; partilhar energias e vontade de ser e fazer cada vez melhor…


Há dias, vi uma senhora numa esplanada. Já a conheço há bastantes anos. É umas das presenças frequentes do (meu) verão à beira-mar. Ela gosta muito de falar. De um ano para o outro, vão-se contando as novidades. Sentada à mesa da esplanada, apenas sorria a quem passava – para que a pessoa com quem ela estava pudesse continuar a ler o livro. Não sei se estou a ser demasiado crente, mas vi no gesto uma prova de amor (se calhar, estou influenciada por um livro que ando a ler de Valter Hugo-Mãe).

Observar muito do que se passa à nossa volta também dá cor aos dias, tornando-os ainda mais visíveis.


Não acredito que se possa ser constantemente feliz, mas que bom é viver momentos felizes. Em agosto (quando é possível ter férias, volto eu a dizer), se tal acontece, apetece mesmo dizer: “Meu querido mês de agosto”!







 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Cores de (um) fim de tarde




quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sete versus dezassete



Hoje, fui à escola para ver os resultados dos meus alunos do 12º ano que fizeram o exame da 2ª fase.

Fiquei contente, porque quase todos subiram a nota a Português. Digo “quase todos” porque um pequeno grupo não o conseguiu, apesar de dele fazerem parte alunos exemplares pelo estudo, pela atenção na aula, pela participação, pela atenção constante aos trabalhos escolares…

Quando assim é, temos pena, claro que temos pena e, em muitos casos, pode afirmar-se: ele/ela sabia para mais. No entanto, esse desabafo de pouco vale e o que conta mesmo é a nota que consta da pauta.

Também me prendeu a atenção o caso de um aluno que tinha tirado sete valores na primeira fase e, no exame de julho, obteve dezassete valores. Voltei a olhar. Acompanhei a linha com a ponta do dedo para confirmar que não havia engano.

Ocorreram-me, então, algumas questões:
- O que testam os exames?
- O que faz com que um aluno consiga subir dez valores de uma prova para outra, se se reitera que o grau de dificuldade das provas é idêntico?
- Na classificação das provas, interfere também o trabalho do corretor?

A prova da primeira fase continha, pelo menos, duas questões cuja formulação era ambígua. Na segunda fase, tal não ocorreu, de facto, mas continuou-se com a prática de o exame abordar apenas dois conteúdos literários quando são lecionados, ao longo do ano, mais do triplo.
O tema da composição, nesta segunda fase, era a “Fraternidade no mundo atual”. Embora pertinente, e também do ponto de vista formativo, é um tema que, apresentado deste modo, leva/levou, facilmente, à redação de textos de notória superficialidade.

Como professora, fiquei contente com algumas classificações e, neste caso, com o dezassete. Mas, se o aluno teve agora dezassete valores, por que razão só conseguiu sete na primeira fase, realizada no período de mais ou menos um mês?
Oxalá tenha sido porque houve mais estudo - sem a interferência da sorte ou do azar.


quarta-feira, 31 de julho de 2013

Afixação improvável


Histórias de verão - A Suzaninha





A Suzaninha vinha com a mãe, todos os verões, há muitos muitos anos, para a mesma praia do Norte e ocupavam sempre a mesma barraca. Logo de manhã, o banheiro trazia um grande saco, onde havia uma manta, para a Suzaninha e a mãe se estenderem ao sol ou se aconchegarem dentro da barraca, um pequeno cobertor para a Suzaninha se cobrir nas manhãs de nevoeiro, duas cadeiras de dobrar, um saco com os brinquedos de Suzaninha: baldinhos, forminhas, pazinhas, duas bonecas para se entreter quando a areia estivesse muito fria ou muito quente. A Suzaninha também queria trazer um livro de histórias, mas a mãe de Suzaninha dizia que era melhor não, porque ela, a mãe de Suzaninha, tinha de descansar a cabeça e acabar a colcha de crochet. É que a Suzaninha gostava que a mãe lhe lesse histórias.

Na praia, havia muitos meninos  e, como eram meninos, brincavam despreocupadamente. Suzaninha, sempre que podia, aproximava-se, mas nenhum dos meninos a chamava porque sabiam que ouviriam logo a mãe de Suzaninha:

- Suzaninha, anda buscar o chapéu. Suzaninha, anda pôr creme. Suzaninha, sai do sol. Suzaninha, não corras tanto. Suzaninha, anda mudar o maillô que esse está molhado e constipas. Suzaninha, olha que ele é mau…

Mas a Suzaninha queria brincar porque a Suzaninha era, como os outros meninos, uma criança. A mãe de Suzaninha preferia vê-la por perto, porque assim estava mais descansada e podia acabar mais uma roseta para a colcha de crochet.

Ora, a Suzaninha punha-se a olhar os meninos a brincar e era como se estivesse no meio deles. Fazia “ai!” quando algum caía, ria-se quando achava graça à brincadeira, batia palmas ao vencedor do jogo das pedrinhas ou do prego…

E isto acontecia quase todos os dias ao longo de um longo mês.

Uma manhã, a Suzaninha chegou à praia com a mãe e estendeu-se o ritual: desdobrar a manta, abrir as cadeiras,  desatar o saco dos brinquedos; pegar na agulha e no novelo;  destapar a lancheira: Suzaninha, come uma banana; Suzaninha, queres a bola de Berlim? Suzaninha, bebe o sumo…

A mãe já sentada com o seu crochet no regaço, Suzaninha bem perto e segura, os meninos retomavam a sua brincadeira, fazendo um círculo na areia. Montavam um castelo com areia molhada. Suzaninha ia seguindo a construção. Pegou numa pá de plástico azul, como se lá estivesse, para poder participar.

Suzaninha, para ver melhor, pôs-se de pé, atrás da mãe, apoiando as mãozitas nos seus ombros.  De repente, o castelo desmoronou-se e Suzaninha, com a emoção e talvez como reação ou repentino reflexo, deu com a pá no ombro da mãe.

A mãe de Suzaninha disse: ó Suzaninha, sabes o que fizeste? Venho para a praia por tua causa, para teres saúde durante o ano, e dás-me com a pá?

Suzaninha nem sabia o que dizer e só queria olhar a construção.

Suzaninha passou o resto da manhã, de castigo, dentro da barraca. Adormeceu no cobertor e sonhou que subiu, livremente, a um castelo, com os outros meninos.