terça-feira, 27 de setembro de 2011

Farturas com "açúcar e afeto"

Diário de Mariana

27 de setembro

Querido diário,

Hoje ia pelo corredor na escola e vi uma cena engraçada. O vidro do fundo do corredor é a toda a largura. Com o sol a brilhar lá fora, as pessoas que iam à minha frente pareciam sombras chinesas. Mais adiante, ia uma professora toda inclinada para o lado esquerdo como se fosse tortinha. Na mão, levava uma pasta que parecia cheia e uma carteira grande ao ombro também com volume. Tudo junto devia ser mesmo um “peso pesado”. E só de um lado. Coitada, até me fez impressão. Não era minha prof. mas apetecia-me mesmo ajudá-la. Mas não o fiz porque se os meus colegas me vissem, diziam logo que eu estava a dar graxa e eu ficava chateada.

Mas isto fez-me pensar, porque afinal sou carneira como muitos outros. E também não gosto de ser patinho feio porque de patinho feio quase ninguém gosta.

Oh, fogo, comecei a falar de sombras chinesas e parece que estou mesmo a fazer teatro. Que cena!

Muitos beijinhos, sei que de ti terei sempre aplausos.

Mariana

Diospiros (ou dióspiros) na árvore

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Diário de Mariana

26 de setembro

Querido diário,

Às vezes deves pensar que tenho ciúmes das minhas irmãs. Não, nada disso, mas irrita-me que as pessoas olhem para mim e só reparem no meu cabelo forte, se estou mais gordinha ou mais magrinha… Parece que só existo por fora. Ou então dizem: é tão engraçada e tão diferente das irmãs! Fogo, não acho nada bem Como só me veem por fora, pensarão até que não sou capaz de ser persistente e escrever um diário. Se calhar, até pensam que copio, ou melhor, plagio que é a palavra que a minha professora ensinou ano passado. Nessa altura, quando contei à minha mãe, ela fez-me muitas recomendações. Como se eu já não soubesse.

Um dia, escrevi um texto sobre um filme de que gostei muito. Era o trabalho de casa. Eu acho que a minha prof, quando o leu pela primeira vez, pensou que não era meu e que eu estava a mentir e fiquei um bocado triste. Por outro lado, fiquei contente. É porque estava bem. Se calhar, foi por acaso, mas ficou mesmo fixe. Era sobre um filme francês e acho que o título era: O segredo do Couscous. Gostava até de o rever.

A minha mãe já me contou que há alunos que entregam trabalhos retirados da net e fazem de conta que são deles. Por isso, nem citam as fontes. Se a minha mãe fosse à escola e soubesse uma coisa dessas, acho que me castigava logo. A primeira coisa, acho eu, era proibir-me de escrever o diário neste blogue. Eu não o faria porque não sou capaz de roubar nada a ninguém Mas uma vez copiei num teste. Levei umas regras de gramática escritas a lápis e a letra miudinha num dicionário. Durante o teste, estava com tanto medo que a prof descobrisse que até me esqueci de coisas que eu sabia bem e t6irei fraca nota. Jurei que nunca mais.

Também já ouvi que há adultos que copiam trabalhos nas universidades. Até já falámos disso à mesa. E não sei se era por estarmos a jantar, mas a minha mãe disse que há coisas que não pode digerir. Eu nesse momento estava a comer um bocado de maçã, não mastiguei bem e tive de dizer: ai, mãe, e eu não posso engolir!

Beijinhos, meu fiel amigo (Fogo, até parece que para mim és um bacalhau).

Mariana

domingo, 25 de setembro de 2011

Estados crepusculares

Amadeu Souza Cardoso

Fim de tarde. Uma casa antiga. Com estalidos nos longos tempos de silêncio. Um grupo de mulheres sentadas: uma borda, outra lê, outra cose uma saia, outra apenas diz que está cansada e que a comida está quase pronta.

Uma jovem chega com o namorado. Cumprimentam-se. Sorriem. Os dois começam a falar numa língua que não é o português. Aproximam-se da janela de guilhotina. Olham os campos. Falam de Itália, onde viram um grupo de mulheres a rezar numa capela pequena com cheiro a flores murchas.
Os jovens dão as mãos e anteveem a viagem que retomarão dentro de horas.

As quatro mulheres, sem levantar os olhos, começam a rezar baixinho.

Tema sugerido em ateliê de Serralves, com Mário Cláudio.


Diário de Mariana

25 de setembro

Querido diário,

Hoje, a minha mãe disse-me logo que cheguei à cozinha: Mariana, depois de almoço, vamos a um Centro Comercial Quero comprar um candeeiro para a nossa casa e durante a semana é um corre-corre. E eu: ó mãe, a um Centro Comercial ao domingo à tarde? Ver criancinhas maltratadas? E a minha mãe, deixando de cortar o pão: Mariana, o que estás a dizer? E eu: sim, mãe, com aquela gente toda, se começam a berrar tanto é porque não lhes fazem bem. E a minha mãe, em tom apaziguador: Mariana, nem toda a gente tem quintal, por mais pequenino que seja. E eu: ó mãe, então se precisam de espaço, por que não levam as criancinhas para o parque da Cidade ou para a beira do mar? Não se paga nada. E a minha mãe, no mesmo tom: Mariana, muitas pessoas têm uma semana triste e precisam de ver coisas bonitas, de animação…

E eu cá pra mim: deve ser uma animação andar a ver montras e aos encontrões e a dizer aos filhos que levam uma bofetada se não se calarem..

Pronto, tem de ser. Vou com a minha mãe comprar o candeeiro. Só espero é que ela não veja um vestido barato, cor-de-rosa, e diga logo: Mariana, que lindo vestido. Ficava-te bem com o teu cabelo preto. E eu: ó mãe, já bastou o vestido de fada que vesti uma vez no Carnaval.

Bem, estou a fazer filme, mas ir a um Centro Comercial a um domingo à tarde também vai ser. Por que é que a gente não faz só aquilo de que gosta?

E o que é mais engraçado é que a minha mãe diz muitas vezes: Mariana, a vida é curta e temos de aproveitá-la bem. Vê-se mesmo. Deve ser por isso que vamos ver um candeeiro a um Centro Comercial ao domingo à tarde. Até parece que em casa estamos às escuras.

Hm, que cheirinho a torradas. Ainda bem que tenho umas horitas antes de me meter na cena do Centro Comercial. O que vale é que a minha mãe me deixa ouvir a minha música preferida enquanto vamos no carro.

Muitos beijinhos

Mariana

Pormenor de quadro. De outono?

Florentina Gonçalves

Os outros

100 palavras

Muitos professores defrontam-se com o problema de numerosos alunos não assumirem responsabilidades no dia a dia, de esquecerem os deveres, insistindo nos direitos.

Porém, é este o comportamento de muitos políticos de diferentes partidos. O “buraco” na Madeira parece ser disso exemplo. Dizer, dar o dito por não dito, insultar, fazer-se de vítima… enquanto alguns políticos lá justificam, como podem, estes comportamentos, protegendo-se de ataques indesejáveis.

As novas gerações, para além de escolas alargadas e intervencionadas, precisam de exemplos de políticos modernos que não fragilizem as contas públicas nem a democracia. Essa seria obra excelente para o futuro.